Por Mário Salimon
A gestão da estratégia é um campo crucial para o sucesso e a evolução das organizações nos três setores de agenciamento da sociedade. Isso porque não é possível sobreviver sem as adaptações demandadas pelas constantes flutuações de contexto. A busca por congruências internas e externas é, decididamente, um trabalho constante para quem pretende seguir no jogo da vida.
Do ponto de vista da cooperação interorganizacional, que pode envolver governos, agências de cooperação, ongs e empresas, podemos falar de um contexto de hipercomplexidade, pois a busca por congruência demanda um tipo de gestão matricial em que se deve, com maestria, coordenar um volume muito grande de interesses divergentes, normas e atividades deles decorrentes. Ademais, há as culturas organizacionais, sabidamente desafiadoras por sua natureza intangível e mormente tácita. Já não é algo trivial gerenciar todos esses fatores em uma só organização, quem dirá em um conjunto delas! Portanto, é importante admitir que a eficiência e a efetividade dos projetos nesses arranjos é geralmente algo difícil de se conseguir, isso quando chega a haver eficácia.
O alcance de objetivos ousados nas intervenções de interesse social depende fortemente da participação de um conjunto amplo e diverso de atores, e não é possível avançar com sucesso em programas complexos sem a adoção de um método comum de coordenação. Nesse sentido, a Gestão da Estratégia (GdE) tem funcionado muito bem como ferramenta de integração metodológica, por sua capacidade de permitir diversidade na unidade. Derivada de aprendizagens com dezenas de métodos, legados tantos da cooperação multilateral como do mundo empresarial, a GdE foi feita para lidar com a complexidade e pode ser usada como um gabarito universal para a colaboração interagencial.
Mostra a experiência que os processos intencionais de transformação organizacional e sociocultural são divididos sequencialmente em quatro fases, sendo a execução a última delas. As três primeiras são dedicadas à análise de contexto, à ideação e à escolha de alternativas estratégicas. A comunicação é um fator chave para o sucesso da transformação, sendo capaz de criar um sentido comum a partir de processos de harmonização conceitual, de objetivos e dos meios para alcançá-los. O método de GdE se baseia fortemente na comunicação a partir da aplicação de um processo de desconstrução da complexidade decorrente das múltiplas interações que ocorrem intra ou interagencialmente, cujo caráter é geralmente entrópico, seguido de um conjunto de ações a partir das quais se pode reconstruir, por meio de atividades participativas, uma nova complexidade, desta vez gerenciável pelo grupo que a construiu conjuntamente. Com essa comunicação, tem-se uma visão de conjunto dos projetos e processos necessários para a transformação, o que gera um contexto favorável ao cumprimento da missão e alcance da visão.
Em linhas gerais, as atividades de GdE desenham um Modelo de Gestão, que permite uma visão longitudinal e flexível das ações necessárias para as transformações no modo de atuação dos parceiros de missão, bem como um Programa Mínimo, lastreado por Orçamento, que viabilizam e justificam a continuidade das parcerias institucionais.
O trabalho se desenvolve a partir de uma Análise de Contexto. A partir deste ponto, (re)formulam-se Negócio, Visão, Missão e Valores da organização ou iniciativa para que reflitam os interesses do conjunto dos parceiros do Programa. Com base nesses elementos, exercita-se a análise da problemática, que é ampliada no desenho das Árvores de Problemas e de Soluções. Em seguida, desenha-se o Mapa Estratégico e se definem Iniciativas Estratégicas a serem tomadas para solucionar os problemas. Procede-se ao planejamento dessas iniciativas no que tange aos projetos priorizados em nível de produção dos Termos de Abertura de Projeto. Para avançar no tempo com as atividades, propõe-se uma estrutura de coordenação e um regime comum de trabalho. É um processo de comunicação da organização, por assim dizer, que institucionaliza o que realmente importa e, mais que isso, aquilo que é efetivamente pactuável e viável entre as partes interessadas.
A aplicação da GdE permite, geralmente, uma mudança radical em termos de institucionalidade e organização para eficiência operacional. Com isso, os parceiros de projeto passam a ter reais chances de prosperar como atores no campo das mudanças que se dispõem a fazer, gerando impactos significativos relativos a seus objetivos estratégicos e ao cumprimento de suas missões.
Mário Salimon é consultor especialista em Gestão de Estratégia e Comunicação Organizacional, com doutorado pela Universidade de Brasília
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