Por Mário Salimon
Apresentação originalmente gravada em um encontro de empresários brasilienses, em fevereiro de 2021.
Cada palavra que vou apresentar tem um significado especial para mim e para a maneira como normalmente executo meu trabalho. “Abordagem” é a palavra que estou usando aqui, pois as pessoas muitas vezes têm a necessidade de enfrentar situações que geralmente abrangem um grande conjunto de possibilidades e acabam escolhendo uma ou outra para iniciar o trabalho.
“Abordagem” está relacionada a essa ideia de enfrentamento, com a qual as organizações frequentemente têm que lidar quando trabalham em suas estratégias. Observei muitas organizações ao longo do tempo e trabalhei com dezenas delas. Raramente possuem estratégias explícitas e, quando têm, as aplicam de maneira muito instintiva e pouco profissional.
Acredito que é extremamente importante que as organizações tenham abordagens e que sejam estratégicas. O que acontece, como todos sabem, é que vivemos em um contexto dinâmico, de muitas mudanças – mudanças permanentes. Mudanças e eventos muito impactantes, como a pandemia, que é um exemplo extremo, mas atual. Essas mudanças geram incongruências, que são situações em que enfrentamos conflitos entre elementos tanto internos à organização quanto externos. Ou seja, vamos mudando de formas diferentes. Dentro de uma organização, as pessoas mudam de maneira distinta e começam a não mais se entender. Muitas vezes até se entendem, mas se envolvem com ideias que são diferentes das do mundo externo e, nesse ponto, não conseguem mais se conectar com o ambiente ao seu redor. De qualquer forma, são conflitos que complicam a vida.
Essas incongruências exigem um processo de mudança organizacional para que o sistema volte a funcionar bem, de forma coerente e mais fluida, por assim dizer. Para isso, trabalhamos com uma ferramenta chamada Gestão da Estratégia.
Administração ou gestão?
Aqui, vou transmitir meu entendimento do tema para que possamos abordar o problema. O problema da gestão é muito comum. Há uma confusão recorrente entre gestão e administração, mas há uma diferença básica: a gestão incorpora a ideia de um processo que envolve muita análise. A administração, por outro lado, é um processo mais focado na execução de tarefas. Quem repete o planejamento estratégico apenas com base em planilhas, replicando o que funcionou no passado, está administrando e não necessariamente gerenciando. A gestão é um processo por meio do qual as organizações analisam sua situação, identificam problemas, elaboram soluções e executam ações, monitorando e avaliando continuamente para aprender e retomar o ciclo com maior eficiência. Então, não é que uma coisa seja melhor que a outra, mas temos que admitir que nem sempre estamos dando esse salto de uma postura tarefeira para outra mais estratégica, como pede a gestão.
A importância da estratégia
A palavra estratégia possui vários significados. No contexto da gestão estratégica, ela é um conjunto de diretrizes para a tomada de decisões. São elementos que orientam coletivamente as ações, permitindo decisões progressivamente melhores ao longo do tempo, com o objetivo de agregar mais valor ao trabalho realizado pela organização e atender às expectativas de seus diversos clientes internos e externos.
Portanto, a gestão da estratégia é um processo por meio do qual a organização analisa o contexto, projeta e implementa mudanças, monitorando e avaliando essas ações para tomar decisões cada vez melhores no sentido de alcançar seus objetivos. É diferente do planejamento estratégico, que é apenas uma distribuição no espaço e no tempo das ações necessárias para obtenção de certos resultados. A gestão da estratégia tem uma etapa analítica inicial e um pensamento crítico que precedem a execução do planejamento. Isso permite que a organização tenha coerência interna e externa em seus processos de mudança.
Ciclos e aprendizado contínuo
A gestão da estratégia ocorre em ciclos, como qualquer processo, possibilitando aprendizado ao longo do tempo. Podemos usar a analogia do disco de vinil: quem já usou um disco de vinil riscado sabe que a agulha sempre travava no mesmo ponto. Às vezes, era apenas sujeira, que precisávamos limpar para ouvir a música melhor. Com os ciclos de gestão, conseguimos identificar essas "sujeiras" e obstáculos, redesenhando processos e tomando decisões mais eficientes.
Modelos para reduzir a complexidade
Para realizar o processo de mudança, precisamos reduzir a complexidade inicial. Vivemos em contextos complexos, com muitos elementos simultâneos, o que dificulta a tomada de decisões conjuntas. O primeiro passo é simplificar a visão da problemática para que todos tenham uma compreensão comum, permitindo uma construção coletiva de um modelo de gestão. Posteriormente, retomamos a complexidade em bases que agora são mais gerenciáveis.
Sistema e Modelo
O conceito de sistema envolve um conjunto mínimo de elementos que funcionam independentemente, mas, quando conectados, formam um todo integrado. Um modelo de gestão, por outro lado, é uma simplificação da realidade organizacional que pode ser compreendida e trabalhada por todos.
Os elementos de um modelo de gestão estratégica incluem:
Mapa de Relacionamentos, que fornece uma visão gráfica dos clientes da organização, facilitando o planejamento estratégico.
Componentes Estratégicos, como negócio, missão, visão e valores, que orientam a organização.
Proposta de Valor, que agrega valor nas entregas feitas aos clientes.
Mapa Estratégico, com objetivos claros e iniciativas para alcançá-los.
Indicadores e Metas, que permitem o monitoramento contínuo dos resultados e informam os momentos de avaliação.
O papel do consultor
O consultor exerce um papel essencial ao oferecer uma visão independente e ferramentas específicas para a gestão estratégica. Ele ajuda a identificar fatores críticos, reduzir riscos e guiar a organização na tomada de decisões para a mudança. Ao final do processo, a organização obtém uma visão estruturada de seus problemas e um modelo de gestão que pode ser monitorado ao longo do tempo.
O consultor não apenas apoia a implementação do método, mas também promove um processo contínuo de aprendizado e adaptação, garantindo que a estratégia se mantenha viva e funcional diante das mudanças permanentes.
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