A propósito dos shows dos dias 13, 14 e 15 de outubro de 2017
Teatro Casa dos Quatro, em Brasília
20h00, à SCLRN 708, Bloco F Loja 42
Qual é a proposta desse show?
Bem, como você pode ter visto no material, tenho uma carreira de mais de 30 anos como músico e também cineasta. Andava muito devagar com a música nos últimos anos, um tanto cansado da rotina de fazer show em barzinho. Comecei minha carreira com trabalho autoral, e sempre quis voltar a isso. Recentemente, ao saber da montagem do teatro Casa dos Quatro, fui visitar o lugar e pensei em produzir um espetáculo que juntasse tudo que gosto: música eletrônica, cinema experimental, ficção científica, retrofuturismo…
Enfim, foi uma questão de tempo compilar composições que eu vinha trabalhando faz uns oito anos com amigos, para descobrir que todas essas coisas ali estavam, quase prontas para serem mostradas ao público. Tem músicas que fiz com meu amigo Paulo Laboissiere, em um período em que trabalhamos juntos, em Nova Iorque, num projeto chamado Wave Playground, outras que fiz com o fotógrafo e professor da UnB Marcelo Feijó, ainda outras compostas com Fabrizio Michels, que estava na Australia e muito animado, e também uma que fiz Giovanna Carla, que foi minha colega de trabalho. Para todo lado, temos artistas em Brasília!
O que te encanta no cenário musical da cidade, que te faz querer fazer parte?
Eu sempre me animei com um certo espírito vanguardista que habita este pedaço de chão. Na verdade, foi o que me encantou quando cheguei, em 1984, tempo em que os punks e darks se reuniam pelos cantos para ouvir e compartilhar sons diferentes. Muita gente, como foi no meu caso, se cansou de ser apenas consumidora de sons e resolveu fazer o seu próprio. Esse espírito me parece seguir muito forte, embora eu não esteja muito envolvido com movimentos ou cenas contemporâneas. Fiz parte de 20 bandas entre 1987 e 2015. Nem saberia dizer com quantas pessoas dividi palco, mas foram muitas, e sempre em grande estilo e num nível musical alto. Jazz, salsa, bossa nova, blues, soul, funk – aquele de raiz, não este de hoje -, de modo que posso dizer que fiz parte de três décadas de muita ação musical na cidade!
Que legal! Como você descreve a sua música? O que exatamente resulta dessa mistura da eletrônica com a ficção e tudo mais?
Assim como a literatura scifi, minha música acabou sendo muito diversificada. No caso dos filmetes experimentais que mostrarei, você ouvirá uma influência forte dos grupos alemães dos primórdios da música eletrônica, como Tangerine Dream, Popol Vuh e Neu. Nas composições que vamos executar ao vivo, tem pitadas sonoras de Kraftwerk, Style Council, Bowie, Steely Dan, mas também influências de todo o jazz que ouvi, porque minha forma de cantar foi, por exemplo, muito influenciada pela Sarah Vaughan.
Nas letras, tanto minhas como dos parceiros, você verá que tratamos de temas contemporâneos que evidenciam a força da ficção científica, como a extrema mediação das relações pelas máquinas e inteligência artificial, e o modo como isso, por um lado, conecta as pessoas, mas também cria bolhas existenciais que as fazem viver separadamente juntas. A mediação tecnológica é muito forte em meu trabalho, pois ele não teria sido possível sem as máquinas e redes de conexão que me permitiram concretizar, muitas vezes a milhares de quilômetros dos parceiros, ideias musicais e textuais muito complexas.